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22/08/2022

Origem do Câmbio Automático

Já faz algum tempo que é possível reparar que os automóveis lançados recentemente, contam cada vez menos com versões equipadas com câmbio manual. Esse comportamento reflete a preferência dos consumidores brasileiros, que cada vez mais se rendem à comodidade proporcionada pelas transmissões automáticas. 

Segundo um estudo da OLX, obtido com exclusividade pela revista Quatro Rodas, as vendas de carros automáticos em sua plataforma online cresceram 68% no primeiro semestre de 2021, em comparação a 2020. De acordo com a consultoria Jato Dynamics (maior provedora de inteligência para a indústria automotiva), veículos com câmbio automático já representam 40% das vendas atualmente no Brasil. Em relação aos modelos comercializados pela OLX: 28,5% dos automóveis vendidos e 24,5% dos modelos mais buscados em todo país são equipados com esse tipo de transmissão. 

Curiosamente, foram dois brasileiros os responsáveis pela invenção do automático: José Braz Araripe e Fernando Lemos. A informação foi verificada por várias fontes, incluindo a Associação Nacional dos Inventores (ANI), mas foi revelada pelo jornalista Fernando Morais. Morais foi atrás da história de José Braz Araripe por um motivo: ele era tio do escritor.

Braz foi um dos responsáveis pela invenção do câmbio automático. A tecnologia já havia sido esboçada em 1902 pelos irmãos Sturtevant, de Boston, mas o invento deles era mecânico e funcionava apenas em altas rotações. Outro inventor que avançou a ideia foi Munro Alfred Horner, que registrou um mecanismo com funcionamento pneumático, mas a solução também não funcionava tão bem na prática. Diferentemente da invenção dos brasileiros, a transmissão hidráulica de Araripe e Lemos era semelhante às atuais e dispensava o uso do pé esquerdo (usado para a embreagem). 

Ambos se mudaram nos anos 20 para os Estados Unidos para trabalhar nas oficinas de reparos navais do Lóide, companhia de navegação brasileira, e se debruçaram sobre o projeto por mais de uma década. O registro de patente ocorreu só em 1932 e logo foi comprado pela General Motors, que introduziu o câmbio na linha Oldsmobile 1940 lançada no ano anterior, há exatos 80 anos. A Cadillac não demorou muito a adotar a novidade. 

Graças ao acionamento hidráulico da caixa, a transmissão recebeu o nome de Hydra-Matic, usando um conjunto banhado a óleo sob alta pressão com duas marchas. Era um opcional caro, custava 70 dólares, o equivalente a um décimo do preço do modelo. Não por acaso, a denominação virou sinônimo de automático. E foi até “aportuguesada”: virou hidramático. Assim era chamado durante muito tempo, inclusive no Brasil, os veículos com câmbio automático.

Em menos de 20 anos a evolução dos carros nos Estados Unidos se deu por meio de um modelo automático, preferência nacional. E há razões para isso. A propaganda de 1940 anunciava que o câmbio sem embreagem tornaria o exercício de guiar mais seguro ao manter as duas mãos no volante, sem as trocas de marcha. Também dizia que o fato de trocar as marchas muitas vezes além de cansar causava o desgaste prematuro do veículo, com reduções e acelerações.

Em um país sob fortes investimentos na expansão rodoviária, dirigir é preciso, mas de forma confortável. Assim, os automáticos com tração traseira e grandes dimensões, se popularizaram rápido. A partir dos anos 1940, não foram necessários nem 15 anos para que quase todo automóvel americano tivesse transmissão automática.

No Brasil, a fama de que o câmbio automático requer mais gastos com manutenção e de que consomem mais combustível, os fizeram ficar longe do nosso mercado a não ser em carros mais caros. Com o trânsito cada vez mais intenso, e a evolução destas transmissões, o brasileiro finalmente acordou para perceber que no trânsito cotidiano só vale a pena trocar de marcha se o carro justificar essa demanda. 

A invenção do câmbio automático é creditada aos brasileiros nos Estados Unidos. A única dúvida é como foi a remuneração. Em suas pesquisas, Morais afirmou que algumas fontes asseguram que eles ganharam uma bolada à vista, cerca de 10 mil dólares, valor considerado uma fortuna na época. Outros dizem que eles receberam um percentual de cada câmbio comercializado. 

A GM, primeira montadora que introduziu o câmbio automático na produção de seus veículos, acabou se interessando pelo projeto dos brasileiros e propôs duas ofertas: US$10 mil na hora ou US$1 por carro vendido com a tecnologia. Provavelmente sem ter ideia da capacidade de popularização dos automóveis (e de seu próprio invento), José escolheu a primeira opção. Fazendo a conversão da moeda norte-americana, em valores atualizados, descobrimos que os inventores levaram o equivalente a US$160 mil para casa. Seja como for, a invenção deles completa 80 anos, se tornando uma das grandes revoluções automobilísticas.

 

 

AutoShow Collection, 2022.

Quatro Rodas, 2022.

Autoesporte, 2022.